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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Quarto 19

Já no pé do cortiço o quarto 19 não me interessa mais. De longe vejo suas esfareladas colunas de concreto se desprendendo das paredes de tijolos com tons em ferrugem. Mal posso acreditar que outrora minha liberdade estava presa em finos traços emoldurados, dois côvados e meio deles em formas lineares perfeitamente colocadas em minhas mãos.

Não posso conter o aperto no peito em deixar o velho cortiço; recordando o quarto 19 ainda com seus lençóis enrugados e a janela de madeira roída aberta, soprando a cortina escarlate e seu interior preenchido com o que  havia visto de mais belo.

O que tenho agora é a fria e infinita estrada e mesmo que caminhe sem rumo, sei que todos os caminhos me levarão à um único lugar, menor do que alguns poucos passos, mas o suficiente para estar em mim. Cada pedaço do que se passou em um ciclo de lua, cada minuto que se desejou não ter fim, vai estar comigo em cada passo à frente, do quarto 19.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Para você

O céu mal pode segurar a lua de ouro, 
O tempo cai para ela não rasgar o seu firmamento, 
Assim como o faz,
Procuro nuvens no chão,
Para te dar o céu derrubado.        
             

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Noite fria


Vejo o céu avermelhado em uma noite fria, incrível como o tempo frio aguça os pensamentos ao invés de congela-los, tento achar palavras em uma perfeita simetria. Palavras que sopram frias a minha frente, mas que nunca  me chegam aos ouvidos, gerando mais questões nas quais me perco em um sentimento frustrado, sentimento esse, que é a maior causa como era de se esperar, que o sentimento superaria a razão.

Ainda vivo de tolice, mas antes que a aurora agonize o inverno, desejo que o tempo congele o que sinto, penso e pressinto, porque se o sol raiar de novo, vou sentir saudade das noites frias, sonhando com perguntas vazias.   

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Olhos de Outono

Ainda posso ver em dias vermelhos de outono, 
No castanho da aurora, 
Os deslizes de seus traços estendidos em mim.

Ainda posso ouvir dos ventos que arranham o joio,
 Os sussurros de seus lábios murmurados,
E das folhas que ainda caem, 
Sinto o feno de seus cabelos em meu rosto.

Quero voltar por mais uma noite, 
E me deitar abaixo de seu manto, 
Só pra ver amanhecer, 
E brilharem os olhos de outono. 

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Viajante pt1

De uma estrada apertada e longa, no alto do barranco vejo cruzes e lajes... Espero o arrepio passar para então levar a mão com respeito à testa, cumprimentando o repouso dos mortos. Não posso conter a sede e a curiosidade de olhar para alguns rostos estampados no mármore. No meio do cemitério há uma ávore no qual não posso identificar,mas com uma altura que quase arranha o céu e galhos largos que se ramificam território a dentro, mas me parecendo uma extensão à agonia.

A água aqui me parece ligeiramente ácida, não quero imaginar o porquê. Escorado na lápide onde seria o ombro do sepultado começo a pensar: todos que aqui estão, morreram sem terminar algo, deveriam ter feito muitas outras coisas e não ter feito a maioria das que fez. Assim são as pessoas, andam por caminhos turvos e encontram fragmentos de bondade corrompidos por maldade, e então pegam essas peças e as juntam dizendo que estão felizes, mas no final tudo o que teem são vasos trincados que se espedaçam, e então se começa tudo denovo, mais um, e mais um, achando que tem todo o tempo do mundo, sem ter medo de viverem como quem não morre, e morrerem como quem não viveu. 

Demorei muito tempo, mas dou graças por poder ter enxergado isso em vida, os maiores valores estão nas pequenas e simples coisas, uma estrela pode ser a extensão de um brilho no olhar sincero de amor, e la no fundo , é pensando assim, o que me mantém caminhando, é o fato de eu não poder contar as estrelas no céu.

Enfim, as pessoas falham, criam conceitos e faltam com alguns, para depois morrerem e não terem a chance de rever tudo isso, então marcam seus dias e sua face na lápide, para que seus erros e descontentos não sejam repetidos, e para que cada pessoa que você arrancou um sorriso verdadeiro te recorde com afeto, só ai então a eternidade te guardará, e em dias de vida, contarão seus dias de morte.

Olhando para a lápide: __ Josélito E. Oliveira. "Somente as boas lembranças são eternas"...





domingo, 4 de setembro de 2011

Pálidos olhos verdes


Com um tom agressivo porém suave, levo a mão até altura de sua franja torcida deslizo em sua testa até que seus olhos mel esverdeados se fechem junto ao meus dedos, desço por sua face lisa embebida,até o final de sues lábios esticarem-se mostrando um leve sorriso escondido então minhas mãos já envolvem sua cabeça se entrelaçando na selva dourada de seus cabelos, deslizando, até sua nuca, então já se sente a vontade os pálidos olhos verdes a enxergarem novamente e já é tarde, pode sentir meu suspiro rente a sua boca, e como os olhos se cruzam, os lábios assim também o fazem... Me deixe acordar desse sonho para ter a lembrança de que isso aconteceu,Pálidos olhos verdes, há tempos não te vejo.


Lágrimas do céu

Hoje, tão subitamente como minhas lembranças em você, eu vi a chuva cair, vi suas lágrimas se despedaçarem em solo relevo e sobre meu ser Muito além de um agrado da natureza é a chuva, que sempre me lembra você, se pudesse decifrar os tons em meu coração junto as meras lágrimas banhadas pelo céu, eu diria: Chuva, eu sinto por outrora desprezar os seus sopros, acreditando que um calor momentâneo poderia me suprir, grande tolice!, hoje vejo que só você pode me abraçar desta forma, disfarçando os meus prantos e limpando a minha alma, como que me escutando sem que eu tenha medo de dizer nada... Percebo que até o tempo você pode mudar, pois quando vem suas rajadas celestes, cada gota de tudo me remete a lembranças indecifráveis, e que são essenciais para minha felicidade...Volte logo chuva, eu tenho muito o que lhe dizer.